O Trabalho
Nosso bequinho
Paró Ferreira
Na Rua dos Expedicionários, nº 98 (antiga numeração), junção com a rua XX de agosto, era a nossa casa. Tinha ali um beco que hoje é cimentado, têm bancos. Nos tempos idos e vividos por mim, era o “nosso canto”, era nosso aquele beco. Jogávamos queimada, brincávamos de pega-pega com as crianças da vizinhança. Os meninos jogavam bola e a vizinha que tinha a casa do outro lado, a Cida, não devolvia nenhuma que caia em seu quintal! Então, o cuidado com o chute era muito grande, merecia um cálculo certeiro. Com a bola da queimada, que era feita de meia pelas nossas mães (a minha e das crianças da vizinhança), não corria esse risco. E, reitero pelas palavras de Octavio Paz, em seu poema aqui:
Meus passos neste beco
Ecoam
Noutro beco
Onde
Ouço os meus passos
Passar neste beco
Onde
Só é real a névoa.
Como no bequinho, ainda estão encrustadas nas pedras de seu paredão ao fundo, nas paredes ao lado e no cascalho coberto pelo cimento, as risadas, as brincadeiras mais gostosas do mundo, os choros contidos e até os escancarados, as músicas tocadas e cantadas nas serenatas, os beijos roubados, as paqueras disfarçadas e todas as emoções vividas naquele nosso canto. Se voltarmos com os nossos olhos de criança, um dia, ele (o beco) poderá voltar a ter o ”pasmo essencial” e o encantamento da “eterna novidade do mundo”, e, de lá avistar o morro como uma forma infinita de beleza e amplitude do nosso bequinho, como carinhosamente o chamávamos e ressoa em nossas mais ternas lembranças, como um dos cantinhos mais gostosos de nossa infância e nosso melhor ângulo para as
descobertas mais afetuosas do mundo!
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