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Uma pequena história sobre a imigração e de como nos tornamos simonenses


João Butoh

João Butoh (*)


Ainda enquanto Vila, nos primórdios da história de nossa cidade, já recebíamos imigrantes de várias partes do mundo.


Nossa sociedade foi sendo formada como uma colcha de retalhos, com multiculturas que se entrelaçaram e a partir daí teceram uma identidade particular, que seguiu multifacetando-se até os dias atuais.


Naquele tempo, chegar até aqui no lombo de burro ou em carroça era uma aventura. Explorar o sertão paulista não era para muitos, mas encorajava a esperança de chegar ao paraíso e ter prosperidade, o que arrastou famílias inteiras bem antes da estrada de ferro.


Aqui, para todos os lados que se olhava eram pés de café. Era o assunto também nas rodas, casas de chá, tabacarias e reuniões sociais.


A necessidade de trazer a estrada de ferro até aqui veio ao encontro do poder político e financeiro de nossa cidade.


Levar ao Porto de Santos o nosso café tornou-se uma via de mão dupla: ia-se a produção e vinham os imigrantes.


Inicialmente vieram os italianos, substituindo a mão de obra escrava nas lavouras de café. Posteriormente, portugueses, franceses, ingleses, alemães, japoneses e pessoas de muitas outras ascendências, cientes de que onde havia pessoas haveria a necessidade de se ter um comércio diversificado. Roupas, calçados, alimentos enlatados e enchidos ou embutidos, grãos, ferramentas e muito mais.


E assim foram se abrindo as lojas, criando-se hábitos, rituais e uma pequena cidade foi se desenhando em torno das serras.


Com tanto dinheiro circulando em nossa cidade, foi preciso abrir uma agência financeira, e então tivemos o nosso primeiro Banco. Antes deste acontecimento, era tudo marcado em cadernetas e as contas eram pagas mensalmente. Era o dinheiro do café movendo a nossa economia.


Mas não foi só o trabalho dos imigrantes que enriqueceu o nosso povo! Suas tradições e costumes foram aos poucos transbordando-se, por meio de festas religiosas, para os demais moradores.


Novas línguas se ouviam entre os moradores, o status na sociedade também projetava o poder político, em uma época que quem governava a cidade era a Câmara de Vereadores.


Muitos dos imigrantes que chegaram em nossa cidade vieram alfabetizados, com profissão definida. Conheciam engenharia e arquitetura, contabilidade, agricultura e construíram muito do que temos até hoje.


A luz elétrica chegou até as nossas ruas pela força local de nossos imigrantes. Não se mediam esforços para oferecer aos habitantes uma melhor qualidade de vida.


E surgiram as escolas, as igrejas, as Lojas Maçônicas.


E quanto mais aumentava a quantidade de moradores, mais surgiam as possibilidades e oportunidades de suprir as suas necessidades. Começaram a circular os jornais impressos.


Por um bom tempo, tudo chegava até nós pela via férrea: muitos utensílios de uso geral, fossem eles para a casa ou mesmo para ser instalados na cidade. Foi assim que os maquinários para a benfeitoria do café chegaram para muitas fazendas. Da Inglaterra, vieram as diversas peças para a instalação das estações de trem pela região, que era quase toda parte de nossa cidade.


Os alemães logo abririam uma fundição que nos deixaria supridos da demanda e espera das encomendas vindas da capital.


Até hoje, ainda é possível ver em algumas residências as grades fronteiriças que outrora enfeitavam e hoje fazem nos orgulharmos desta parte da história.


Com suas histórias, o trabalho e as tradições, as famílias então impulsionaram a nossa sociedade e a transformaram em uma cidade próspera.


Surgiram, então, as corporações musicais que animavam as tardes de domingo no coreto da praça. Foi construído o Theatro Carlos Gomes, a Societá Operária Italiana de Beneficenza e Mutuo Socorro "Pátria Italiana" e várias salas de cinema.


Os automóveis já circulavam pela cidade, impulsionando os corsos a invadir as ruas no carnaval.


Várias companhias de ópera visitavam a nossa cidade periodicamente, além de outras companhias artísticas e companhias circenses.


Vieram as epidemias de febre amarela, de varíola... a “Quinta-Feira Negra” - 24 de outubro de 1929 - o dia da quebra da Bolsa de Nova York... a separação e desmembramento de vários municípios que faziam parte do nosso.


Estas circunstâncias e a de novos eventos que chegavam com a modernidade passaram a desenvolver um papel bastante modificador e impressionante, que marcou a fundo o restante do Século XX para a nossa cidade.


Na chegada do novo século, a sociedade simonense já lidava com a realidade de viver em uma cidade dormitório, sem empregos para a maioria da população e sem ensino superior para os estudantes universitários.


Nossa perspectiva de crescimento econômico seria abraçar a nossa história e valores agregados dos nossos antepassados. Essa força motriz é um excelente elemento para fortalecer o turismo, que é o caminho que devemos seguir. Um município rico em história, cultura e tradições tem um diferencial que deve ser explorado e preservado. E, por consequência, gerar muitos empregos.


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(*) João Butoh é um artista multidisciplinar: ator, coreógrafo, figurinista, cenógrafo, bailarino, diretor, cineasta e jornalista.

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