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Associação Esportiva Quirinense – AEQ - A pantera do renascimento

Enzo Túbero (*)


“Quem caminhando à toa, não se sentiu alguma vez dominado por tudo que se perdeu quando nenhuma experiência vivida possibilitava o retorno, a recuperação do passado?” (Paulo Mendes Campos in Infância)



Enzo Túbero

Implacavelmente o futuro estampará em sua história a “Edição Comemorativa” do jornal “O Trabalho” e causará estranheza exaltar-se a AEQ neste ano de 2020 em que exaustivamente convoca-se a população a “ficar em casa” devido à pandemia da COVID19: o clube fecha seus portões, apaga suas luzes, silencia o burburinho das conversas e o som das músicas.


A chegada da Estrada de Ferro “São Paulo & Minas” em Bento Quirino foi um divisor de águas no processo de formação cultural de nossa gente. A “Estrada” era o fomento do espírito de solidariedade e união em prol do desenvolvimento da comunidade de Bento Quirino. Todos, direta ou indiretamente eram “filhos da Estrada”.


Em 1934, nasceu a AEQ que criou fortes raízes que a faz sobrevivente. João Jorge Filho, Hilário Túbero e João de Almeida, esportistas, e dezenas de sócios fundaram a Associação Esportiva Quirinense. Diretores da “SPM” foram presidentes do clube: Marcílio Bondesan, Fausto Pires de Oliveira, Eng. Hugo M.M. Castro e Antonio V.M. Alagão. A “São Paulo & Minas” era muito bem aparelhada. A locomotiva número 07, fabricada pela Baldwin em 1891, está conservada no pátio da AEQ.


Em 1984 foi publicada a revista ‘Associação Esportiva Quirinense ─ cinquenta anos de esporte e lazer’. “Na década de 1930 o futebol e o circo eram os poucos acontecimentos profanos que empolgavam as pequenas cidades do interior. Um bom time de futebol ─ como um bom espetáculo ─ era acontecimento social, levando ao campo senhoras distintas e moças casadoiras que gritavam nervosamente quando a bola se avizinhava de uma das metas... aberto todas as noites, bem no centro do bairro, no clube jogavam-se pingue-pongue, torrinha, dama, bilhar, pião, montava-se quebra-cabeça e liam-se livros e revistas culturais...”


Um baú de recordações: ficou conhecida como a “Pantera da Mogiana”, famosa no interior do Estado de São Paulo e parte de Minas Gerais. Carnavais, shows de “Cascatinha & Inhana”, Nelson Ned, Agnaldo Timóteo, Nalva Aguiar. Festas da Cerveja! As quermesses! Oh! A Mulher macaco!


Ah! Os bailes da AEQ: em 1953 com a “Orquestra Brasil” aconteceu o show inaugural. Os bailes de debutantes, “Cassino de Sevilha”, “Grupo Nós”, “Madeireira Brasil”. “Festas folclóricas tiveram seu ponto alto nas quadrilhas”. Recentemente o show/baile “Tim Maia Cover” e pré-carnaval em 2020 com a banda simonense “Túnel do Tempo” lotaram o salão em noites maravilhosas!


O cinema: quanta história! Datam de 1926 ─ Bento Quirino já tivera seu cinema antes da AEQ ─ os primeiros registros: “...o aparelho no meio da sala, entre os espectadores, projetando filme em tela molhada... E os aficionados do cinema levavam suas cadeiras. Na AEQ, em 1963, um moderno cinema exibiu “Tico-Tico no Fubá”. 240 poltronas, casa sempre cheia, com sessões diárias! Mazzaropi foi presença garantida e tantos outros: “Marcelino pão e vinho”, “Carrie, a estranha” e os emocionantes faroestes! E os espectadores iam a pé para suas casas conversando sobre o filme e tantos outros assuntos – claro que não se falava de violência, de desemprego, pois a “Estrada” garantia certamente. Parada obrigatória na Praça São Paulo & Minas”.


Em 1998 o jornal local noticiava “Argentinos no Estádio Ovídio Carramaschi, em Bento Quirino”. Campeonatos de futebol, de bocha. O time de veteranos da AEQ viajou à Bélgica e empolgados os atletas que eram amigos, acompanhados pelos senhores Osvaldo Audi e Fernando Túbero ─ bem estilo “pais e filhos”, marca registrada da AEQ que tem o dom de confraternizar gerações não pararam por aí: Argentina, Uruguai, Foz do Iguaçu. Jogos amistosos no Rio de Janeiro no “Maracanã” ─ preliminar de Flamengo X Botafogo; no Engenhão – preliminar de Botafogo X São Paulo; e ainda em Niterói, Maceió, Curitiba, Vinhedo, Magda e São Paulo. Futebol feminino, Bola ao cesto, Bocha, pedestrianismo, malha, tênis estão registrados nas páginas da “Edição Especial do Jubileu de Ouro”.


As famílias quirinenses recebiam os parentes, os amigos, os ex-moradores do bairro que vinham chamados pelas atrações do clube! O salão lotava nos carnavais!


Nos anos de 1970 a ferrovia acabou. O espírito ferroviário foi abalado, mas não destruído! A forte AEQ ainda desperta a paixão da comunidade local com os sócios fiéis que não a abandonam; e, como sempre, o trabalho voluntário ajuda a mantê-la preservando atualmente o estádio “Ovídio Carramaschi” por onde se espalham homenagens. Percorrer o clube é viajar pelo tempo em que abnegados construíram o conjunto de piscinas e saunas “Hilário Túbero”, o campo de bochas “Jordano Cansian”; homenagens: na secretaria a “Tonico Querido” e “Zeca Porto”, “um pequeno campo para um grande homem”, relembra Octávio Longo; o parque de diversões “Wilson Túbero” com o trenzinho elétrico. Assim, a “sede” como é chamado o clube em referência ao charmoso salão social fundado na administração de “Marcílio Bondesan” tem atualmente um perfil voltado ao lazer. Resiste ao modo de ser das pessoas que se reúnem em família, em suas piscinas, com seu grupo de amigos íntimos, assistem ao futebol na TV e saboreiam a cerveja gelada!


Em 14 de março aconteceu o último evento no bar da AEQ: show do jovem músico “Danilo Audi”, amante de BQ e da AEQ. Seus avós estavam presentes!


Voltar atrás é improvável, impossível e irreal! Mas “vai passar”!


Este “mantra” anuncia o fim da epidemia de Covid-19 e este clube irá provocar as pessoas a se desapegarem momentaneamente dos desfrutes dos avanços tecnológicos e juntar as crianças para mergulhar na piscina comunitária, os amigos para jogar aquela pelada, as famílias para dançar e cantar!


A AEQ prosseguirá sua trajetória pelos trilhos da esperança movida pelo espírito de fraternidade, solidariedade e união; transportará nossa gente à Estação do Encontro onde crianças, jovens e idosos estarão felizes rumo ao destino tão sonhado da confraternização, do respeito e do amor.

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(*) Enzo Túbero é nascido no bairro de Bento Quirino, na casa de seus pais, pelas mãos da

parteira Cezira Túbero ─ amante do futebol e da AEQ. Descobriu o ato prazeroso e livre de

escrever no “facebook”.




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