O Trabalho
A importância de manter nossa cultura sempre viva
Carol Kossling (*)
É possível termos uma sociedade sem história? Sem valorização das raízes culturais, familiares e sociais? Sem relatos de seus hábitos, costumes e manifestações? Claro que a resposta é não, pois sem esses fatores não se tem uma identidade cultural tão necessária e valiosa para o desenvolvimento e progresso de um povo, de uma cidade, de uma nação.
Manter essa chama viva é essencial para que esse conhecimento, de suas próprias origens, atravesse anos, décadas e séculos, passando de geração em geração, para que cada um saiba valorizar da onde veio e como foi formada suas memórias em relação a tempo e espaço.
Dentro deste contexto, São Simão é um município privilegiado, pois respira cultura com espaços como o Museu Ferroviário, a Casa de Cultura Marcello Grassmann, o Theatro Carlos Gomes, e o Museu Histórico Simonense Alaur da Matta (MHSAM), o qual vamos destacar nessa matéria.
Nasce o Museu Histórico
Em 1978 foi criada a Fundação Cultural Simonense para administrar o Museu Histórico Simonense, que funcionou por 10 anos em casa de seus fundadores, realizando exposições itinerantes.
Seus fundadores foram o arqueólogo amador e professor de marcenaria, que dá nome ao museu, Alaur da Matta; o arqueólogo amador e bancário, Luiz Antônio Nogueira; o jornalista e historiador, José Pedro Miranda e o professor e historiador, Fausto Pires de Oliveira.
Mas foi somente em 27 de outubro de 1988 que recebeu uma concessão da Prefeitura Municipal e no prédio da antiga Escola Normal, construída em 1923, foi aberto oficialmente o Museu Histórico Simonense. E em 1991, com a morte de um de seus principais patronos e idealizadores, o museu foi rebatizado com o nome de Museu Histórico Simonense “Alaur da Matta”.
É administrado pela Fundação Cultural Simonense (Funcus) que busca, incansavelmente, fortalecer a identidade cultural da comunidade e resgatar a história do povo de São Simão e região, por meio da pesquisa, preservação e difusão de seu patrimônio histórico e cultural. Ele conta com trabalhos de voluntários residentes da própria cidade para realizar trabalhos de pesquisa, manter o acervo à disposição da população e, ainda, receptivo para os visitantes.
Ocupando uma área construída de 797m², o museu é uma das principais referências acerca da cultura simonense, imigrante e arqueológica do Estado de São Paulo. Ele dispõe de cinco salas de exposição, sendo três delas permanentes, além de uma área externa.
Sala Arqueologia Simonense
Uma das três salas de exposição permanente possui em seu acervo evidências materiais da ocupação humana anterior à colonização do Brasil. Estão expostos materiais líticos, como pontas de flecha e machados polidos e, também, materiais cerâmicos, como uma urna funerária Tupi, todos encontrados no município de São Simão.
Além disso, há um espaço para o desenvolvimento da arqueologia experimental junto aos visitantes para que possam ter a experiência do processo de confecção de materiais líticos por meio do lascamento. Por fim, painéis e artefatos recentes permitem uma compreensão etnográfica da cultura indígena brasileira.
Sala Imigração
Em um outro espaço de exposição permanente está um rico acervo de móveis, utensílios domésticos, ferramentas e outros artefatos e objetos que remetem ao período em que imigrantes italianos e alemães ajudaram a participar da colonização da cidade de São Simão. Por lá é possível viajar no tempo e conhecer um pouco mais dos hábitos, das profissões e do cotidiano do final do século XIX e início do século XX.
Sala Revolução de 1932
A Revolução de 1932 foi um grande marco na história paulista e brasileira em que, estando discordantes do governo instaurado pela Revolução de 1930 por Getúlio Vargas, paulistas pegaram em armas com o objetivo de que a Constituição se fizesse respeitada.
Mesmo não vencendo o combate, a Revolução de 1932 marcou o processo de redemocratização e de mudanças políticas que levaram a criação da Constituição de 1934. O município de São Simão participou do conflito e, por conta disso, uma ala do Museu é dedicada a este importante evento histórico nacional.
Auditório, Reserva Técnica e Biblioteca
O MHSAM conta com um auditório, uma reserva técnica e uma biblioteca. O auditório é um espaço utilizado para usos diversificados, recebendo exposições temporárias e propiciando também um local para debates, palestras e ações culturais como saraus, recitais e lançamentos de livros. É um elo entre os cidadãos de São Simão e os turistas como forma de se relacionar com o museu, fomentando assim o diálogo, o conhecimento e preservando a cultura.
A reserva técnica possui um extenso acervo fotográfico, cartográfico e documental da cidade de São Simão e região, além de inúmeras peças arqueológicas, históricas e do cotidiano da vida doméstica e profissional de um passado não tão distante.
Ao todo, são mais de 9.000 peças que compõe o acervo, entre materiais arqueológicos, históricos, documentos, fotografias, mapas, obras de arte, instrumentos, ferramentas e muitos outros artefatos. E a biblioteca possui aproximadamente 3000 livros e possui também um Centro de Pesquisa com Documentos e Processos desde 1870 até 1946. Salvaguardando e remontando a história de São Simão o museu permite um passeio no tempo, viagem esta que se inicia na pré-história, visitando toda a diversidade cultural desse período, saltando na cronologia temporal podemos apreciar a multicultura indígena e suas inigualáveis urnas funerárias.
Continuando pelos caminhos da história podemos observar toda a riqueza do Brasil império em que teve campo fértil em nossa cidade, através da mão de obra escrava, grandes fazendas de café, posterior urbanização, estradas de ferro e progresso advindos das mãos dos imigrantes e intenso movimento republicano, ostentando o título de berço da proclamação da República.
A história não para e a participação de São Simão nela é louvável com os nossos combatentes da Revolução de 32, o acervo do museu é único em sua representatividade. O Museu Histórico Simonense com toda sua diversidade, hoje é o grande guardião da história de São Simão que se entrelaça com a do nosso país e do mundo, é lugar de pesquisa, estudo, sendo morada e cúmplice de toda essa fonte inesgotável de saber.
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(*) Texto da jornalista Carol Kossling em conjunto com a Fundação Cultural Simonense - FUNCUS.
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